Um casal de gringos vivendo juntos

Eu já tinha visto casal de pessoas de nacionalidades diferentes vivendo juntos e nunca pensei que eu iria passar por algo assim também 😂.

Você pode até achar que eu estou exagerando, mas entre paulistas e gaúchos existem diferenças culturais bastante evidentes, e este post é para falar sobre isso.

UM CASAL DE GRINGOS VIVENDO JUNTOS

Eu, paulistano da gema, nascido e criado até os 30 anos em São Paulo, capital:

Um casal de gringos vivendo juntos

Minha digníssima esposa, Franciane, nascida e criada em Porto Alegre também até os 30 anos:

Um casal de gringos vivendo juntos

Conseguimos a proeza de nos conhecer em plena pandemia da Covid-19 durante a minha vinda ao Brasil, começamos a namorar, nos apaixonamos, noivamos e estamos às vésperas do nosso casamento na cidade de Porto Alegre 😱.

Nossa convivência ficou mais forte quando eu estava morando em Florianópolis. Naquele momento a Fran foi passar cerca de 20 dias comigo e ali começou as nossas aventuras culturais e linguísticas, tema deste pitoresco post.

Um casal de gringos vivendo juntos

TERMOS DO ‘GAUCHÊS’ QUE EU DESCONHECIA

Primeira situação: “me alcança…”

Imagine você cozinhando com a sua namorada, quando ela vira e solta a seguinte frase:

– Lindo, me alcança o vinho?

– Desculpa linda, não entendi…

ME ALCANÇA O VINHO, POR FAVOR!

Se você não é das bandas do sul do Brasil, com certeza está fazendo a mesmíssima cara que eu fiz quando ouvi esta curiosa expressão pela primeira vez.

Segundo o maravilhoso dicionário gauchês do blog Eu Em Palavras, o significado desta expressão é a seguinte:

Como eu queria estar vendo a sua cara neste momento, meu querido leitor, minha querida leitora 🤣🤣🤣.

Em São Paulo falamos” pega pra mim a taça de vinho” ou “me passa a taça de vinho”, enquanto que no sul a expressão é “me alcança a taça de vinho”.

Segunda situação: “vamos comer vazio?”

Depois de me divertir com a história do “me alcança”, decidimos fazer um churrasco na mesma tarde, quando aprendi a segunda palavra que destoava daquela que eu conhecia: a carne “vazio“.

No Rio Grande do Sul, o que conhecemos como “fraldinha” é chamado de vazio ou bife do vazio.

E antes que alguém venha dizer que tecnicamente são partes diferentes, na prática se trata sim da mesma peça, do mesmo corte, não te tonteia e vai incomodar outro, tchê! 🤭.

Aqui preciso fazer uma ressalva super importante: o vazio está para o gaúcho como a picanha está para o paulista.

Com uma diferença: o quilo da frandinha custa 1/3 da picanha e, sabendo fazer na churrasqueira, fica tão delicioso quanto!

A propósito de churrasqueira, mais uma diferença que eu aprendi pelas bandas do sul.

Terceira situação: “churrasco de grelha não existe…”

Para os gaúchos, grelha é pra assar peixe, não carne bovina!

Sim senhoras e senhores, em todas as casas que aluguei e que tinha churrasqueira, não haviam grelhas, apenas espetos. Muuuuitos espetos rs

Um casal de gringos vivendo juntos
Olha o resultado da carne do vazio (fraldinha) no espeto

E MUITO MAIS GAUCHÊS

Quase todos os dias eu aprendo algo novo dessa língua diferenciada, se eu fosse numerar aqui todas as situações vividas, ia precisar de vários artigos para ilustrar rs

Por isso, resolvi listar o que eu aprendi até o momento, deixando claro que são apenas palavras que são específicas e diferentes das que são usadas fora do Rio Grande do Sul.

Falo isso, porque existem também expressões idiomáticas, como “frio de renguear cusco” ou “cair os butiá dos bolso”. (sim, o pessoal corta o plural da última palavra!) que aí se trata de outro tipo de situação.

Veja abaixo o que eu consegui reunir até agora, com a devida tradução hahahahahaha

  • Me alcança = pega pra mim
  • Pila = dinheiro (em SP falamos “conto”)
  • Barbaridade! = interjeição
  • Bah = diminutivo de barbaridade
  • Mangolão = pessoa desprovida de inteligência
  • Blusa = camiseta
  • Vazio = fraldinha
  • Faceiro = feliz
  • Se palestrar = se intrometer
  • Guri = rapaz
  • Pia = rapazinho
  • Butia = fruto típico da região
  • Função  = trabalheira
  • Sair da casinha = viajar na maionese
  • Lomba = ladeira
  • Sinaleira = semáforo
  • Pardal = radar de trânsito
  • Quebra-mola = lombada
  • Tiara = arquinho de cabelo
  • Guampa = chifre
  • Salsichão = linguiça
  • Tapar = cobrir
  • Minguinho = dedo mínimo
  • Na rua = na área externa da casa
  • Patente = tampa do vaso sanitário
  • Rancho = estoque de comida
  • Prende o grito = pedir algo
  • Torrada = misto quente
  • Parada = ponto de ônibus 
  • Roleta = catraca
  • Manta = cachecol
  • Chamar comida = pedir comida
  • Tele-entrega = delivery
  • A la minuta = prato feito
  • Guisado = carne moída 
  • Tatu = lagarto (corte da carne bovina)

CONCLUSÃO

Tem sido muito divertido conhecer tanta coisa nova, além claro de ver os gaúchos boquiabertos pensando que estas palavras todas também eram faladas no restante do Brasil.

E, quando eu compartilho a versão que eu conheço das palavras deles, a cara de espanto é exatamente a mesma que fazemos rs

Imagine a discussão entre “me alcança” e “pega pra mim” ou então entre chamar a carne de “tatu” ou “lagarto”.

São regionalismos que nem devem ser explicados, basta achar graça e entender que a beleza está exatamente nas diferenças.

Tem um provérbio italiano que eu gosto muito e sintetiza bem o que estou querendo dizer:

Il mondo è bello perché è vario

Ou seja: o mundo é lindo porque as coisas são diferentes!

E você, já ouviu alguma outra palavra do dicionário gauchês que eu ainda não conheci? Escreve aqui embaixo nos comentários, vou adorar saber 🙂

17 Comentários


  1. Boa Noite.
    Adorei a história de vocês.
    Eu também sou de Porto Alegre.
    Faltou a tua esposa comentar sobre aquela palavra conhecida que a gente pede na Padaria, o famoso “cacetinho”, ou seja o famoso pão francês.
    kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk.
    Se divirtam com mais essa palavra.

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  2. Ainda bem que não foi com uma mineira que vc se casou, pq nem tradução teria kkkkk

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  3. Fábio, parabéns pelo artigo, sempre aprendo muito com suas experiências. Aqui em Curitiba, algumas das expressões são bem conhecidas, eu falo estas: me alcança, faceiro, guri, pia e guampa.

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  4. Ah, ainda tem um “tema de casa” (lição de casa). Duas músicas:

    Jayme Caetano Braun – Bochincho

    E

    Recuerdos da 28

    Abraço

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  5. Tem alguns “provérbios” interessantes também!

    “Mais gorduroso que telefone de açougueiro”
    “Mais feio que tombo de mão no bolso”

    Obs.: Tombo = Queda

    Tem ainda algumas outras palavras como: Pechada (acidente de trânsito), batida (vitamina), quebra-costela (abraço), e, o famosíssimo ir aos pés, esse tu pergunta pra tua esposa o que é! Heheheheh.

    Abraço!

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  6. Oi Fábio,
    Já pegaste “um frio de renguear cusco” aí no Rio Grande do Sul?
    Pergunte a Fran o que significa.
    Abraço aos dois.

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  7. Me caiu os Butia do bolso = expressão de surpresa e espanto.

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  8. Vai na padaria do Super e pede um cacetinho e um negrinho. (Agora peça a tradução para a tua Nega Véia)

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  9. Adorei a história, se bem que já sabia, pois te acompanho. Vamos lá nas expressões gauchescas.
    Cangaço.. levar um susto
    Ala-putcha-tchê – interjeição de surpresa.
    Peleia – briga, disputa
    Talagaço – de uma vez só.
    Guasca – homem rústico, valente, forte, guapo,.
    Indiada – vários homens.
    Mosquear, moscão – distrair, distraído.
    Naco – pedaço.
    Chapéu tapeado – aba do chapéu dobrada.
    Nó nas tripas – cólicas estomacais.
    Ôigale – expressão de espanto, alegria.
    Pandorga – pipa, papagaio…..
    Divirta-se com essas. Grande abraço
    Sandra Maganha

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  10. Hahaah é assim mesmo! Mas rancho é sobre as compras do mês/semana no mercado, “fazer o rancho” é ir no mercado comprar.

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